Reoneração do diesel vai aumentar a inflação, dizem especialistas

06/06/2023

Governo anunciou aumento de R$ 0,11 no litro do diesel, a partir de setembro, para compensar o custo de R$ 1,5 bilhão do programa de incentivo às montadoras.

A volta de parte da cobrança dos impostos federais - PIS/Cofins e IPI - sobre o diesel em setembro, 90 dias antes do prazo inicialmente previsto pelo governo federal, numa tentativa de  compensar as medidas de incentivo para a indústria baratear os preços de carros, caminhões e ônibus foi criticada por consultores automotivos ouvidos pela reportagem.

O diesel vai ficar R$ 0,11 mais caro em setembro. O retorno dos tributos deve render R$ 1,5 bilhão em novas receitas. O valor será usado para compensar o custo do programa de incentivo às montadoras. 

“Acelerar a oneração do diesel para financiar o tal programa só vai trazer mais inflação”, explica Paulo Cardamone, CEO da Bright Consulting, especializada em consultoria para o setor automotivo.  

A avaliação é parecida com a do consultor automotivo Ricardo Bacellar, que prevê um aumento de diversos produtos com o diesel mais caro. 

“Talvez a parte mais preocupante seja a reoneração dos combustíveis, iniciativa que, sabendo da alta dependência de nossa logística de transportes frente ao modal rodoviário, vai penalizar todos os brasileiros, compradores de veículos ou não, na forma de aumento dos custos dos produtos em geral e, consequentemente, dos preços, ou seja, todos pagarão para ‘financiar um benefício pequeno e para poucos’, isso não me parece fazer sentido”, justifica. 

A duração de apenas 4 meses do programa também foi alvo de críticas de Paulo Cardamone. “Medidas de até 4 meses não resolvem de forma alguma os problemas por que passa o setor. A redução de preços para os veículos de R$ 60 mil a R$ 120 mil nesse prazo traria vendas adicionais ao redor de 100 mil a 120 mil veículos e uma pré-venda que afetaria o mercado ao fim do programa”, alega.

Bacellar também considera muito curto o prazo das medidas. “Se por um lado (o governo) estabeleceu o teto financeiro do programa de incentivos, por outro confirmou uma vigência extremamente curta e, mais uma vez, não endereçou a real fonte do problema da queda de vendas: o empobrecimento do brasileiro em geral que não consegue arcar com mais despesas”.

Segundo o especialista, grande parte da população já está extremamente endividada e não vai conseguir comprar carro novo neste momento. “Vale observarmos o que está acontecendo no varejo, que trabalha com tíquete médio muitas vezes inferior ao nosso (setor automobilístico) e tem lidado com índices de inadimplência e endividamento que não param de crescer, sem falar no nível de desemprego igualmente crescente”.

O CEO da Bright Consulting também acredita que a população não está com renda suficiente para comprar um veículo 0 km. 

“O que precisamos para o setor automotivo não está relacionado a programas de reindustrialização, o setor é um dos mais desenvolvidos do país em termos de eficiência produtiva. O que ele precisa, não só aqui como em todo mundo, é de escala, que está ligada ao crescimento econômico, aumento do emprego e da renda”, argumenta.

Desde 25 de maio, dia da indústria, o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, já havia adiantado que o governo anunciaria as medidas, mas sem dar detalhes. Enquanto elas não foram apresentadas, os negócios ficaram praticamente parados nas concessionárias, com queda de 30% nas vendas na última semana de maio, na comparação com a última semana de abril. 

Fonte: Portal O Tempo


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